segunda-feira, 13 de abril de 2009

Mulher


Meu amigo Zé Guilherme
Lá estava ele de terno preto, sapatos pretos, gravata preta, meia cinza , camisa branca e óculos redondos. Uma vasta cabeleira preta meio desarrumada, um monte de papeis na mão cansado, mal humorado, chateado com aquilo. Certamente não era o trabalho que imaginava fazer quando aceitou entrar para uma agencia de propaganda. Bem, naquela ocasião não precisava ser publicitário para trabalhar em publicidade. Alias, nem faculdades de comunicação existiam. Em 1967 as pessoas viravam publicitárias por que entendiam do assunto. Mas aquele auxiliar do grupo de varejo da Denison Propaganda, onde se abriaga a 4ª. maior agencia do Brasil operando numa bela mansão em Botafogo certamente tinha nascido para criar anúncios e não carregar campanhas, memorandos, conferir faturas etc. E sob sua responsabilidade estavam as contas da Ducal e da Bemoreira, os maiores faturamentos do setor no Brasil !
Mas sua eficiência era fundamental para o andamento das campanhas e os supervisores das contas não faziam nada sem que ele antes checasse conferisse e mandasse pra frente. Eram dezenas (às vezes centenas) de anúncios de jornal por semana (!), filmes de TV mudados 2 ou 3 vezes por semana (e eram filmes em película, P&B 16 mm) e mais o acompanhamento do programa de TV do Raul Longras “Casamento na TV” ao vivo aos sábados na TV Rio.
Nos raros intervalos o Zé Guilherme conversava um pouco sobre o que ele mais gostava de fazer.
Pintar.
Bem, aquilo para mim não era muita novidade, pois quase todos os diretores de arte da Denison pintavam, o próprio dono da agencia (Sepp Baendereck) se afirmava pintor . O que era diferente era aquele cara de terno preto e cara de contador dizer que pintava também.
Um dia o Zé Guilherme sumiu.
De vez.
Bem, talvez não tão de vez assim.
Naqueles poucos intervalos entre um corre corre e outro ele deixou na Denison uma quantidade de amigos tão grande que até hoje (creio) fazem parte de seu dia a dia e de sua vida.
A única diferença é que ele foi – e é – o único que continuou pintando. Ou melhor , artista plástico. E de sucesso. Dos outros, nunca mais ouvi falar.
Eu também fiquei sem ouvir falar dele uns tempos, até que alguns anos depois ele - não sei como – me descobriu e falou sobre seus trabalhos, sobre suas exposições e diante de meu ceticismo, sugeriu que eu comprasse a revista Manchete daquela semana.
E lá estava uma belíssima reportagem com o UPIRÓ (seu alter ego artístico) mostrando uma serie de trabalhos em pirogravura. Imediatamente e literalmente me apaixonei por um pintinho (pinto = filho da galinha) lindo de morrer e não fiquei quieto enquanto não pude adquiri-lo.
Foi um custo, parece que o trabalho era um dos xodós dele, mas depois de muita insistência (e alguma falta de grana do autor) consegui o quadro que por muitos anos ficou em lugar nobre junto à minha coleção.
Até que... uma dedicada faxineira resolveu limpa-lo com algum detergente da moda, o produto reagiu e o pobre pintinho assou como uma galinha de padaria. Em desespero procurei o Zé Guilherme que depois de um pequeno escândalo (mas como é que eu deixei uma faxineira passar detergente em couro ?) concordou em salvar o trabalho. Bem, salvou à maneira dele, fez uma outra pintura em cima do pinto, que alguns meses depois reagiu novamente e a misturada acabou curtindo o couro de forma irremediável . Foi o fim definitivo do pintinho e do abstrato que ele fez em cima.
Mas a amizade continuou.
Zé Guilherme é um grande e ótimo papo, pessoalmente ou por telefone. É sempre um prazer ir às suas exposições e saber noticias de sua errante e agitada vida social, emocional, profissional e sei mais o que.
Ele sempre aparece. Mais do que o Voltarie de seu amigo Jaguar. E é sempre bom.
Claro, neste meio tempo consegui um outro belíssimo trabalho dele (esqueci de dizer que eu já tinha uma aquarela com nanquim de priscas eras) que espero te-lo reproduzido no site, pois é muito bom mesmo.
E continuo admirando o Zé Guilherme e seu comparsa Upiró (nunca sei qual deles me liga).
Um lembrete a todos que por acaso lerem. Comprem os trabalhos do Zé Guilherme/Upiró. Ele é péssimo vendedor, a gente pensa que pode conseguir de graça, mas ele é um grande artista que precisa ser remunerado a altura. E os quadros dele ficam muito bem em qualquer ambiente.
Parabéns pelo blog, site ou seja lá o que for, ZÉ !
Antonio Luiz Accioly

(Accioly é publicitário desde 1967. Foi diretor de mídia da Denison, Norton, SGB, diretor comercial da Revista do Domingo e do Jornal do Brasil, teve sua própria agencia a Intermoda Publicidade , foi diretor de Novos Negócios da Artplan e diretor do Jornal de Turismo e depois da Folha do Turismo e Mercado & Eventos (Grupo Folha Dirigida) atualmente é publicher (diretor) da Brasil Travel News e presidente da CAERJ –Câmara de Comercio e Indústria do Estado do Rio de Janeiro)

Um comentário:

Anônimo disse...

Meu querido Zé Guilherme, Upiró,
Há algumas semanas atrás, um casal amigo nosso esteve lá em casa e viu este seu trabalho que você batizou de “Mulher”. Ficaram maravilhados.
No final de semana passado foi aniversário de casamento deles. Resolvi que seria uma boa ocasião para presenciá-los com o quadro.
Hoje recebi esta carta do casal (Ana Maria da Veiga Lima Tinoco e Paulo Cezar Tinoco) que transcrevo a seguir : (em 20 de Maio de 2011)

“Queridos amigos Dadala e Antonio Luiz,
Alguém já disse : “das sementes em nossas vidas a amizade é uma das melhores colheitas”
Que nossos encontros pela vida afora se mantenham com o mesmo fervor, entusiasmo , dedicação de sempre.
E que , em cada encontro , possamos deixar um pouco de nossos sonhos, motivações, projetos, alegria vida, enfim.
E que eu, amiga de vocês possa oferecer sempre o melhor do meu coração , ou seja a compaixão para cativá-los apóia-los encorajá-los e last but not least, amá-los .
Agradeço pelo presente , que, me provocou uma overdose emocional de alegria e encantamento. Foi dose !
Com minha ternura renovada, no “front” da esperança de minhas melhores, hoje e sempre
Aninha “